Hatsune Miku: Project Diva Megamix é o ritmo que o Switch precisava

Anne Camilla Voss
9 min readNov 9, 2020

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A clássica franquia de jogos de ritmo finalmente faz sua estreia no Nintendo Switch

Se você possui algum nível de interesse por jogos de ritmo, com certeza já deve ter pelo menos ouvido falar de “Project Diva”, ou o “jogo do Vocaloid”. No mercado desde 2009, a franquia já passou pelos arcades japoneses e por diversos consoles portáteis, como o PSP, o PS Vita e o Nintendo 3DS. Nos consoles de mesa, ele já deu o ar da graça no PlayStation 3 e no PlayStation 4. O último título, Hatsune Miku Project Diva: Megamix, foi sua estreia no Nintendo Switch, um console híbrido que revirou as expectativas de gameplay fazendo uso dos joy-cons e da tela tátil para inovar o padrão já conhecido de Project Diva. Existem outros jogos de ritmo para o Switch, como Cadence of Hyrule, Taiko no Tatsujin e VOEZ, e ainda há a chegada de Kingdom Hearts: Melody of Memory para o console também, mas o estilo clássico de Project Diva precisava incrementar a biblioteca de jogos do console, e fez isso com um título astucioso, recheado de conteúdo e lindo de se admirar (e jogar!).

TÁ, MAS O QUE É VOCALOID?

Vocaloid é um software de síntese de voz conhecido de longa data pelos otakus, já que praticamente faz parte da cultura pop japonesa dos anos 2000. Vendido como “um cantor em uma caixa”, o software permite ao usuário criar melodias, inserir voz, modificar a pronúncia, o tom, a dinâmica da voz… Enfim, criar todos os elementos que compõe uma música utilizando, além disso tudo, uma voz artificial. As vozes pertencem a “personagens” que tem nomes, rostos e até personalidades definidas, o que os tornou extremamente populares na cultura otaku. A grande representante de Vocaloid é Hatsune Miku, a “cantora digital” mais famosa do Japão que já chegou a fazer shows fora de seu país natal, participou de campanhas publicitárias e foi cotada para participar do Coachella 2020 (um dos maiores eventos de música do mundo). Junto com Miku, outros Vocaloids famosos que fazem parte “da panelinha” e são geralmente retratados juntos são Megurine Luka (a primeira Vocaloid feita com suporte à língua inglesa), KAITO e MEIKO (mais antigos que Miku, porém não tão famosos quanto ela) e Kagamine Rin & Len (os gêmeos). Outros, como GUMI, participam de alguns jogos mas não fazem parte do grupo principal (geralmente, pelo menos).

Da esquerda para a direita: KAITO, MEIKO, Hatsune Miku, Kagamine Rin, Kagamine Len e Megurine Luka — Reprodução/Switch Brasil

O ocidente se encantou, na década passada, com o conceito de “cantores digitais”, e várias matérias foram produzidas sobre o assunto (chegando a ser exibidas no Fantástico, programa da Rede Globo). Assim, os Vocaloids dominaram o mundo com seu design de anime, suas vozes estranhas e suas músicas clássicas que você, como brasileiro otaku, com certeza já deve ter escutado em algum evento de anime que frequentou, como World is Mine, Matryoshka e Magnet. Como qualquer pessoa com o software pode criar as músicas, existem centenas de músicas de Vocaloid que se tornaram famosas na internet, com clipes animados dedicados à elas e que viriam a se tornar tendência com o passar dos anos. Como o brasileiro adora uma piada, Vocaloids já foram até usados para reproduzir músicas brasileiras como da banda Calypso, rendendo memes que perduram até hoje.

PROJECT DIVA, O JOGO DE RITMO

Assim sendo, com centenas de músicas famosas e clipes animados, surgiram os jogos de ritmo de Vocaloid desenvolvidos pela SEGA em parceria com a Crypton Future Media, que são uma coletânea das músicas adaptadas para o estilo de jogo de ritmo “de botão”. A base do jogo é apertar os botões na hora em que eles surgem na tela, seguindo o ritmo da música, e cada jogo adicionou uma mecânica nova para complementar o esquema básico de apertar botões na hora certa. Várias músicas de Vocaloid se consolidaram nos jogos, aparecendo em vários títulos diferentes, dada a sua popularidade. Com várias dificuldades diferentes e até modos específicos dependendo do console (existe Project Diva até em VR!), os jogos se consolidaram com um público fiel que acompanha as novas versões religiosamente e que, recentemente, migrou das plataformas PlayStation para o Switch, onde podem jogar tanto no modo portátil quanto na TV.

Aprte os botões na hora que eles aparecem na tela, seguindo o ritmo, e voilà! — Reprodução/Nintendo Portugal

O título dos jogos é quase sempre composto por “Hatsune Miku: Project Diva” e então seguido por algum complemento que o especifica, já que Miku é a Vocaloid mais famosa e a “personagem principal” da franquia. Geralmente há também um modo de “edição” e de “convivência”, este último no qual o jogador pode ver a Miku ou todos os Vocaloids em seu quarto, comprar itens, decorar e tirar screenshots. Um dos atrativos do jogo é, em geral, a quantidade massiva de roupas diferentes para Miku e os outros Vocaloids, que combinam com as músicas e que rendem até pontos extras caso sejam combinados perfeitamente.

HATSUNE MIKU: PROJECT DIVA MEGAMIX

O primeiro título da franquia para o Switch (porém não o primeiro para um console da Nintendo, já que o 3DS já havia recebido o spin-off Hatsune Miku: Project Mirai em 2012, que foi o primeiro título da franquia a sair para um console que não fosse da PlayStation) foi anunciado em 2019 e lançado em 14 de maio de 2020. Estilizado como Hatsune Miku: Project Diva MEGA39’s no Japão, o título trouxe mais de 100 faixas e contou com duas ondas de DLC, sendo um título equivalente (por ter basicamente o mesmo conteúdo e o mesmo Arcade Mode) ao Hatsune Miku: Project Diva Future Tone do PlayStation 4 (que era, até então, a maior coletânea existente de Project Diva). Como de praxe, trouxe também dois novos modos de jogabilidade: o Mix Mode (usando os Joy-Cons como motion controllers, os controles de movimento) e o Touch Play Mode (adicionado por atualização depois do lançamento do jogo), além do padrão Arcade Mode, o modo “normal” de jogo.

Project Diva: Megamix tem uma ótima seleção de músicas, cuja diversidade mantém o jogador empolgado para jogar todas. Todas as músicas tem seu próprio “clipe”, cujas animações variam dependendo da proposta da música, e para o Megamix foi adotado um visual mais anime, fugindo da quantidade absurda de sombras em Project Diva: Future Tone que tentaram dar ao jogo um ar mais “realista”. O Megamix inclui músicas de Miku, MEIKO, KAITO, Luka e dos gêmeos Kagamine, e não trouxe nenhum título que tenha a participação de outros, como GUMI, por exemplo (ou seja, é triste mas não temos Matryoshka disponível). Porém, há muitas músicas clássicas inclusas no jogo, como Black★Rock Shooter, World is Mine, Catch the Wave (a “música tema” do jogo), Freely Tomorrow, Just be Friends, Luka Luka★Night Fever, entre outras, o que de certa forma compensa a ausência de “participações especiais”.

Modo Mix Mode, onde os Joy-Cons são usados para encaixar na posição da tela — Reprodução/Eurogamer

Além da jogabilidade padrão, já explicada e mencionada acima, os modos extras de jogo roubaram a cena neste título. Como o Switch tem a vantagem dos Joy-Cons destacáveis, um modo de jogo foi criado inteiramente baseado neles, e requer que você segure um Joy-Con em cada mão e use o motion para encaixar seu Joy-Con com a posição requerida na tela, no momento certo, no ritmo da música. Esse modo, o Mix Mode, é obviamente exclusivo do Switch e funciona bem, apesar de não ser tão divertido e instigante quanto o padrão de botões Arcade Mode.

Já o Touch Play Mode faz uso da tela sensível ao toque do console. No modo portátil ou tabletop, os botões principais aparecem num tamanho considerável na tela, semelhante à disposição dos botões nos arcades, e basta tocá-los para executar a música, ao invés de apertar os botões correspondentes no console. Quando esse modo é ativado, entretanto, o jogador fica impossibilitado de usar os Joy-Cons e os botões, ficando limitado somente à tela de toque, o que faz com que esse modo precise ser ativado num menu específico do jogo.

Por fim, diferente dos Project Diva anteriores, o Megamix não possui em sua gameplay a opção do botão “star”, que era comumente associado ao analógico. Retornam neste jogo, por sua vez, a opção de “slide” (empurrar o analógico na direção certa durante alguns segundos para fazê-lo “escorregar”) e o multi-notas, onde o jogador precisa apertar até quatro botões diferentes ao mesmo tempo, dois do lado esquerdo e dois do lado direito, num momento específico para manter o combo da música.

A lista de músicas é intuitiva e fácil de se guiar, sempre mostrando a capa do single e o nome do compositor/artista — Reprodução/Nintendo

É possível remapear todos os botões do jogo e, principalmente, modificar os símbolos dos botões a serem pressionados de XYAB para setas ou para o padrão da PlayStation, o que pode ajudar aqueles que vieram dos consoles da Sony e não estão acostumados com os botões da Nintendo. Ainda dentro da customização, é possível alternar entre quatro diferentes dificuldades de jogo: Easy, Normal, Hard e Extreme. Algumas músicas são exclusivas de certas dificuldades, ou seja, há a possibilidade de uma música não ter versão Easy, mas ter Normal, Hard e Extreme. Em termos de gameplay, as dificuldades são extremamente punitivas conforme você as aumenta; no modo Normal já é possível notar o aumento de punição por notas erradas e o uso do multi-notas, que é uma das mecânicas mais difíceis do jogo.

ESPERE SENTADO E COM ESTILO

Como já mencionado acima, o jogo tem muitos conjuntos de roupas disponíveis, bem como acessórios e partes que podem ser misturadas com outras, como os penteados (é possível combinar o penteado de um conjunto com a roupa de outro). Além disso, o jogo traz a opção de criar camisetas, dando um modelo em branco e algumas opções básicas de pintura e customização para o jogador dar asas à criatividade e estampar da forma que quiser camisetas para a Miku e outros Vocaloids.

Há opções de customização para todo mundo, e tem até crossover entre franquias da SEGA! — Reprodução/Siliconera

É divertido poder customizar os Vocaloids e vê-los dançando com as roupas que nós escolhemos ou as combinações que fizemos, mas prepare-se para ser estiloso e esperar com calma: o tempo de carregamento do jogo é um tanto demorado. O carregamento inicial é lento, mas após isso o jogo é extremamente responsivo e veloz. Porém, quando escolhemos a música, customizamos o personagem e então começamos a jogar, há outro carregamento para que a música comece, e esse é um tanto demorado também. Não são carregamentos absurdamente longos (olá, The Witcher 3 e seu loading infinito) mas são um pouco maiores do que o normal no Switch, e isso pode incomodar um pouco às vezes, principalmente aos jogadores mais apressados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Project Diva: Megamix traz o que há de melhor na franquia e sai da coleira de ferro na qual estava preso há anos: a PlayStation. Como o Switch é híbrido, a facilidade de jogar as músicas na telona, usando os Joy-Cons, e em segundos poder passar para o modo de toque no portátil é absurdamente eclético e deve conquistar pela curiosidade até mesmo aqueles que nunca encostaram num Project Diva antes. O jogo base possui muitas músicas, e ainda existem dois grandes pacotes de DLC (também vendidos em pequenos pacotes, mas é mais barato comprar o pacote maior com tudo incluso) que adicionam ainda mais canções e incrementam o conteúdo, apesar de não serem exatamente necessários. Em resumo, é um prato cheio para quem é fã e é uma oportunidade de ouro para quem deseja conhecer a franquia em todo seu esplendor, sendo o melhor Project Diva até hoje e um dos melhores (senão o melhor) jogo de ritmo para o Switch atualmente, que não deve ser destronado num futuro próximo.

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Anne Camilla Voss

Graduanda em Jornalismo, focada em Jornalismo de Games, um pouco de cultura pop japonesa e traduções ENG-PTBR. Portfolio e contato abaixo: